A ‘ressaca’ da hiperconectividade e ‘uberização’ das telecom


Crédito: Divulgação*Célio Mello

Com o isolamento imposto pela pandemia do coronavírus, a comunicação passou a depender do trânsito de dados em forma de textos, sons e imagens. Relações interpessoais e operações corporativas migraram para o ambiente online, impulsionando o setor de telecom. Após uma verdadeira corrida para atender o aumento inesperado da demanda por acesso à Internet, chegamos a mais de 80% dos domicílios conectados no País.

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Os números são expressivos: em pouco mais de dois anos, os acessos à banda larga fixa no país cresceram 241%, de acordo com levantamento recente da Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel. Nesse cenário, a participação dos ISPs (Internet Service Provider) foi relevante e o segmento de prestadoras de pequeno porte (PPP) teve um salto de 165%, com o desafio de entregar redes estáveis e um sinal de qualidade para locais fora da rota das grandes operadoras.

Mas, depois deste “boom” de hiperconectividade que viabilizou o desenvolvimento das atividades por meio da internet, veio a “ressaca” que se estende por vários quadrantes como a diminuição das contratações de conexões, a escassez de matéria-prima (componentes eletrônicos), que tem sido agravada pela desestruturação das cadeias logísticas globais, e o excesso de capacidade no “estoque” dos provedores.

Previsões otimistas

O lado bom é que, segundo previsão do IDC, até 2023 a crise dos insumos para a fabricação de chips estará superada e podemos afirmar que o futuro das telecomunicações segue promissor, marcado pela ascensão de novas tecnologias como IoT (Internet of Things), 5G, Machine Learning, e a aceleração das incursões ao Metaverso, onde, segundo o Gartner, até 2026, 25% da população mundial passará algum tempo do dia.

Essa nova fase da vida digital, calcada em tecnologias cada vez mais disruptivas, cria para as operadoras de telecomunicações e provedores de internet a necessidade de oferecer conexões velozes e estáveis, que garantam a melhor experiência ao usuário. Mas a implantação e manutenção de infraestruturas de fibra óptica custam caro, compelindo empresas a se aliaram para se tornarem mais competitivas.

Redes neutras em consolidação

A solução encontrada pelos provedores, para diluir estes investimentos em favor da melhoria dos serviços e aumentar o alcance das redes de fibra óptica foi o compartilhamento dos backbones, alternativa que virou tendência, fortalecendo o conceito das redes neutras como forma de democratizar a oferta de uma internet de qualidade tanto para a grande operadora quanto para um PPP do interior do Brasil.

Esse movimento, onde empresas constroem conjuntamente, dividem e/ou permutam fibras e canais ópticos, vem sendo chamado de “uberização das telecomunicações” e se baseia no conceito no qual a cadeia de valor dos serviços de telecom é distribuída entre vários agentes, que se especializam e atuam de forma compartilhada para entregar o valor esperado pelos clientes dos serviços de telecom e internet.

O modelo desponta como o caminho natural no panorama do setor, atraindo olhares não só das maiores fornecedoras de banda larga do país como também de investidores internacionais. Esse compartilhamento das redes ainda abre oportunidades para o crescimento de uma nova camada de ISPs posicionada entre as principais operadoras e os menores provedores e que passam a ser identificadas como provedores regionais.

Nesse sistema colaborativo, a aposta nas redes neutras não é vantajosa somente para o mercado, que ganha infraestruturas mais modernas a menores custos, mas também para o meio ambiente, com a otimização do uso dos recursos naturais, e para os usuários em geral, que passam a contar com opções de conexão robustas por preços mais acessíveis, incluindo regiões remotas e zonas rurais distribuídas pelo Brasil.


*Célio Mello é gerente de produtos da Eletronet.

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