Crise? Os provedores não sabem o que é isso


Apesar da forte turbulência que sacode o país, os provedores regionais de acesso à internet não demonstram o menor sinal de abalo. Ao contrário, no último ano, exibiram diversos indicadores de solidez e expansão, obtiveram excelentes resultados em comparação aos demais segmentos do mercado de telecomunicações e, além disso, as expectativas são de um ano ainda mais promissor em 2018.

A avaliação é unânime entre os atores da cadeia de negócios dos pequenos e médios provedores, segundo reportagem publicada pelo Anuário Tele.Síntese de Inovação em Comunicações, lançado em São Paulo, ontem, 25, pela Momento Editorial. A começar pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que registrou em junho de 2017 cerca de 27,16 milhões de acessos à banda larga, dos quais 12,75% por meio dos 2,4 mil provedores regionais com licença de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM). A agência contabilizou ainda, entre os grupos de empresas do setor de telecomunicações, que o melhor desempenho individual foi liderado por eles: tiveram 3,54% de crescimento individual ao mês e 34,21% ao ano.

Publicidade

“Ninguém mais vem aqui pedir outra coisa. Só internet. E são os regionais que estão atendendo a essa demanda. Das operadoras autorizadas pela Anatel, 73% têm até 1 mil assinantes”, aponta Juarez Quadros, presidente da agência. “O maior impulso de investimentos em banda larga no Brasil, proporcionalmente, tem vindo dos provedores regionais; não das grandes operadoras”, reforça o conselheiro Aníbal Diniz.

No cômputo geral ou nos casos isolados, os investimentos dos provedores regionais chamam atenção. A Associação Brasileira de Provedores de Internet (Abranet) está realizando um estudo sobre investimentos no setor que será divulgado no final deste ano. O presidente da associação, Eduardo Parajo, adianta: “Podemos falar em um salto de mais de 10% ao ano, em faturamento e em número de clientes”.

O número de assinantes dos provedores regionais, segundo um levantamento feito pela Anatel, passou de 2,58 milhões para 3,52 milhões no último ano (junho de 2016 para junho de 2017). Esse crescimento é claramente ditado pela expansão geográfica, com a conquista de novas clientelas em localidades onde a demanda ainda está desatendida.

Por sua capacidade de capilaridade, os regionais estão sendo os responsáveis pela chegada da internet de alta velocidade aos municípios menos populosos, em regiões com menor atividade econômica – alvos fora do radar das grandes operadoras. No Sul e no Nordeste, a participação dos regionais, na opinião de Diniz, rivaliza com a das gigantes de telecom. “Em 30% dos municípios do Nordeste os pequenos são os principais fornecedores de banda larga. E 80% estão em cidades com menos de 30 mil habitantes”, afirma o conselheiro.

Na ponta, também em tecnologia

Os provedores regionais não se destacam apenas pela universalização do acesso. Em tecnologia, também estão na disputa. Embora cerca de metade das conexões fornecidas pelos pequenos ainda seja via rádio, continua forte o movimento de implantação de fibra óptica nesse segmento, seguindo uma tendência já de dois anos. Muitos migram direto do rádio para a fibra, sem passar pelos cabos metálicos. O conselheiro Diniz avalia que “o peso da participação de fibra óptica nas redes dos pequenos é mais do que o dobro na comparação com a última milha das grandes operadoras”. Atualmente, as grandes operadoras têm apenas 7% dos seus acessos em fibra óptica, enquanto os provedores têm 16% dos seus clientes atendidos nessa tecnologia.

Basílio Perez, presidente da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint), conta que, no período de dois anos, as grandes operadoras passaram de pouco mais de 800 mil acessos em fibra para 1,5 milhão de acessos, o que representou 70% de aumento. “Os provedores passaram de 128 mil para 534 mil acessos, um aumento de 400%”, diz.

No mercado, encontram-se dados ainda mais impactantes. A unidade voltada a provedores regionais da fabricante de cabos Furukawa fechou o ano de 2016 com 35% de crescimento. Para 2017, com toda a crise, estima-se 30% de crescimento. “Para o próximo ano, esse número ficará entre 15% a 17%”, ressalta Celso Motizuqui, gerente geral de Banda Larga da companhia. O executivo explica que a vedete tecnológica do momento é a rede Gigabit Passive Optical Network (GPON): “Nos últimos dois anos, houve um boom de GPON no Nordeste. Agora, começa a acontecer nas regiões Centro-Oeste e Norte”.

É por meio desses provedores, por exemplo, que banda larga de ultravelocidade chega a locais como a pequena Paraupebas, no Pará, onde a CarajásNet está implantando 600 quilômetros de fibra, além de outros 200 quilômetros interligando a cidade a Marabá. Com isso, os clientes passam a ter velocidades de até 100 Mbps, com serviços de telefonia e TV por assinatura. Também no Pará, outro projeto exemplar é o Xingu Conectado, desenvolvido pela Telebras e pela Prodepa, que prevê 400 quilômetros de fibra conectando vários municípios da região. A infraestrutura, que vai beneficiar cerca de 600 mil pessoas, com capacidade de 10 Gbps expansíveis, será compartilhada com os provedores locais.

De onde vem o dinheiro?

Com crise ou sem crise, cada um dentro de seu porte, para ampliar ou para modernizar as infraestruturas, o fato é que os provedores regionais estão investindo em suas redes. Antônio Carlos Silva, gerente de Engenharia da Furukawa Electric LatAm, informa que as vendas de fibra óptica para peque-nos provedores subiram cerca de 25%, de 2016 para 2017. Os maiores chegam a apostar alto, como a Sumicity, que atende Rio de Janeiro e Minas Gerais.

A operadora planeja chegar a 2018 dobrando sua atual carteira de 50 mil assinantes. Nos dois últimos anos, vem investindo R$ 30 milhões ao ano. Um dos seus principais projetos é o backbone que vai até Vitória (ES) e começa a operar com 200 Gbps, mas está preparado para expandir até 4 terabits por segundo

Um dos méritos dos provedores regionais, de acordo com o conselheiro Diniz, da Anatel, é que os pequenos estão fazendo investimentos com recursos próprios, uma vez que não têm acesso a financiamentos. Esse é um dos grandes desafios do setor. “Mesmo investindo com recursos próprios, existe um limite para essa situação. A falta de um fundo garantidor para facilitar os financiamentos de longo prazo é um inibidor. A inclusão digital estaria muito mais adiantada no país se os provedores dispusessem das mesmas condições de financiamento que foram ofertadas as grandes operadoras”, reivindica o presidente da Abrint.

O Fundo Garantidor para Pequenos Prestadores de Serviços de Telecomunicações para investimentos em infraestrutura, idealizado e pactuado em 2014, continua engavetado. Todos os instrumentos legais para a sua criação estão prontos, todas as negociações com os diferentes agentes foram feitas – mais de uma vez, pois mudou o governo –, mas o Fundo não sai por falta de dinheiro do Orçamento. Em março de 2017, Eric Rodrigues, então presidente da Abrint, propôs que a Anatel pensasse na possibilidade de pegar uma pequena fatia do Termo de Ajuste da Telefônica, já aprovado e em análise no TCU, para criar o Fundo Garantidor. “O Fundo não é um dinheiro que vai ser dado para os provedores. É um dinheiro que fica com a União e que apenas vai garantir os investimentos em infraestrutura de rede para a banda larga”, explicou ele. O TAC da Telefônica prevê investimentos de R$ 4,8 bi em quatro anos.

Previous Estudo aponta que neutralidade da rede é violada no Brasil
Next Provedores regionais são premiados pelo Anuário Tele.Síntese de Inovação 2017

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *