Eliminando a exclusão digital por meio do melhor uso das redes


Shannon recomenda novas formas de combate à exclusão digital/Crédito: Divulgação
Shannon recomenda novas formas de combate à exclusão digital/Crédito: Divulgação

Por Chris Shannon*

A exclusão digital é muito mais do que a diferença entre os que têm acesso à internet, em particular banda larga de fibra ótica de alta velocidade, e os que não têm acesso. Está afetando a alfabetização digital e até a mobilidade social. A pandemia realçou a exclusão digital, uma vez que as videoconferências, o teletrabalho e o ensino em casa com aulas online requeriam uma conexão à internet de alta velocidade. Um recente relatório da McKinsey afirma que a perda de aprendizagem nos EUA não deverá ser temporária[1].

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Muitas vezes, pensa-se que a exclusão digital é um debate de zonas rurais contra zonas urbanas, mas a realidade não é muito clara.

No Reino Unido, o governo está empenhado em oferecer banda larga rápida e confiável a todos os cidadãos no país, o chamado Projeto Gigabit, mas o mesmo tem-se concentrado sobretudo nas zonas rurais. Nos EUA, está acontecendo o mesmo, com bilhões de dólares planejados para aumentar a infraestrutura da internet na América rural. Esta estratégia fez com que  o número de agregados urbanos sem ligação à internet fosse quase três vezes mais elevado, isto é, 13,6 milhões, do que os agregados rurais que não têm ligação à internet, ou seja, 4,6 milhões[2].

Então, por que as empresas de telecomunicações não estão colocando fibra ótica de alta velocidade nas zonas urbanas densamente povoadas? A resposta curta é a adoção da banda larga. O negócio das empresas de telecomunicações é oferecer serviços digitais e é onde ganham o seu dinheiro. A maior parte das zonas urbanas que não tem banda larga de fibra ótica tem baixos rendimentos, pois os residentes não têm os recursos necessários para pagar a assinatura de banda larga. Isto é constatado por uma pesquisa realizada pelo Centro de Pesquisa Pew em 2019 que descobriu que metade das pessoas que não tinham ligação à banda larga disseram que não tinham meios para pagar[3]. Este é o ponto que está aumentando a exclusão digital nas zonas urbanas.

No entanto, existe uma solução: permitir que as empresas de telecomunicações monetizem de outra forma as respectivas redes de fibra ótica nas zonas de baixa renda.

Cabos de fibra ótica multiuso

A tecnologia de Sensores Acústicos Distribuídos (DAS) permite que os cabos de fibra ótica se tornem milhões de sensores. A DAS utiliza fotónica inovadora, inteligência artificial avançada e computação periférica para transformar cabos de telecomunicações de fibra ótica em sensores acústicos sofisticados. Estes sensores são utilizados em várias aplicações, desde a gestão de tráfego até o monitoramento de dutos de água. Além disso, a DAS é uma tecnologia mais ecológica do que a tecnologia de monitoramento tradicional, tais como câmeras, uma vez que não tem baterias e não é necessária comunicação sem fios nos pontos de sensores, isto é, ao longo da fibra ótica. Os requisitos de energia limitam-se à alimentação do interrogador centralizado, que pode ser fornecida de forma econômica através de fontes renováveis e apoio.

A DAS funciona basicamente através da ligação nas redes de cabos de fibra ótica. Envia milhares de impulsos de luz ao longo dos cabos de fibra ótica a cada segundo e monitora o padrão de luz refletido novamente. Quando a energia acústica ou vibracional, tal como a criada pelos movimentos de veículos ou de pessoas caminhando ou vazamentos de água num tubo quebrado, cria uma pressão na fibra ótica, e isso muda o padrão de luz refletido.

A DAS analisa essas mudanças nos padrões de luz para identificar e classificar as interferências. Todos os tipos de interferências têm as suas próprias características e a tecnologia pode fornecer informações em tempo real, sobre o que aconteceu, onde e quando. Esta tecnologia é suficientemente sofisticada para identificar incidentes tais como congestionamento dos transportes, tentativas de invasão à volta de localizações seguras ou até o número de pessoas numa estação de trem.

Quid pro quo

Se as empresas de telecomunicações pagarem pelas respectivas redes de fibra ótica nas zonas de baixa renda através da potencialização da capacidade da DAS, a necessidade de vender assinaturas mensais torna-se discutível.

No entanto, as parcerias entre os que são proprietários de dados, os que são responsáveis pelas cidades e os que são especialistas na área de sensores, são fundamentais para acabar com a exclusão digital. Estes ambientes industriais podem fazer em conjunto um argumento comercial convincente. Todavia, as parcerias têm de ser criadas na fase inicial do processo, para garantir uma implementação da fibra ótica mais fácil e permitir o acesso à banda larga mais amplamente disponível aos que mais necessitam, assim como uma rede de fibra ótica que funciona mais, fornecendo outros serviços essenciais às comunidades.


* Chief Executive Officer na Fotech, uma empresa Launchpad da bp

 

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