Sedeh: Data centers sem conectividade, são só galpões caros


Carlos Eduardo Sedeh

Carlos Eduardo Sedeh

*Por Carlos Eduardo Sedeh, CEO da SAMM – A infraestrutura digital no Brasil está passando por uma transformação silenciosa — mas essencial. Impulsionados pela inteligência artificial, cloud computing e digitalização de serviços, os data centers vêm se consolidando como elementos críticos da economia moderna. No entanto, o avanço desse setor exige mais do que terreno, climatização e energia. Ele depende de uma estrutura de conectividade compatível com a escala e a criticidade dos dados que movimenta.

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Hoje, os data centers no Brasil consomem perto de 1 gigawatt (GW) de energia elétrica, segundo estimativas do setor. Há ainda cerca de 500 MW em fase de desenvolvimento, e a projeção é de forte crescimento nos próximos anos. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a demanda do setor pode atingir 2,5 GW até 2037. Outros dados do Ministério de Minas e Energia apontam que o volume de pedidos de conexão elétrica para projetos de data centers já chega a 9 GW até 2035. Claramente, nem todos os projetos serão desenvolvidos, mas há uma tendência clara e exponencial de aumento de consumo de energia para o setor.

O Brasil concentra uma parcela significativa dos investimentos em data centers na América Latina, com dezenas de unidades em operação e outras em construção — consolidando o país como um dos hubs digitais mais promissores do Hemisfério Sul. Esse avanço, no entanto, impõe uma responsabilidade técnica: garantir que esses centros de dados sejam de fato operacionais e resilientes.

Nesse contexto, a conectividade por fibra óptica deixa de ser um item complementar para se tornar um elemento estruturante. A operação de um data center depende de rotas de alta capacidade, redundância física, baixa latência e resiliência contra falhas e intempéries. Sem uma rede robusta — preferencialmente subterrânea, com rotas diversificadas e engenharia dedicada —, o que se constrói não é um ativo digital, mas apenas um galpão caro, sem conectividade com o ecossistema para o qual a infraestrutura foi criada (seja AI, cloud, conteúdo, outros).

A infraestrutura de conectividade precisa ser pensada desde a origem do projeto. Ela é tão estratégica quanto a matriz energética ou a segurança física do data center. Em um setor onde minutos de inatividade significam milhões em perdas, a fibra óptica é o elo entre o investimento e o resultado.

O Brasil tem uma vantagem competitiva importante em energia renovável — com mais de 80% de sua matriz baseada em fontes limpas, como hidrelétrica, solar e eólica. Mas, para que essa energia alimente um ecossistema digital sólido, é preciso que a infraestrutura de transmissão de dados ande na mesma sintonia.

O futuro da economia digital brasileira passa, inevitavelmente, por baixo da terra — nos dutos, nas rotas e na fibra que sustenta todo o tráfego de informação. E reconhecer isso não é apenas uma questão técnica. É uma decisão estratégica e crucial nos projetos de novos data centers.

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