Precisamos falar do Open Telecom


Crédito: Divulgação*André Neves

Os serviços Open seguem em progressão dentro e fora do Brasil. O Open Banking é uma realidade e, por meio da inteligência artificial (IA), tornou-se o ponto focal dentro das instituições financeiras. O Open Insurance vem aí, trazendo uma nova forma de venda e aquisição de seguros. A minha especialidade, porém, é a telecomunicação e a pergunta que não quer calar é: e o Open Telecom?

PUBLICIDADE

Antes de entrar no cerne da questão, todo serviço Open trabalha com preceitos básicos: a cessão de dados dos clientes (pessoa física ou jurídica) para empresas de um determinado setor, observadas todas as regulações legais de transparência e segurança, para sistemas que possam gerar ofertas e serviços mais atrativos e personalizados. São essas informações compartilhadas dentro de um ecossistema comum que permitem uma maior competição e, em teoria, o grande ganhador é o cliente/consumidor/usuário.

Dito isso, já se imaginou podendo alterar de maneira simples e rápida o seu pacote de dados junto à sua operadora de celular? Ou migrar para outra que lhe permite ter os serviços de banda larga, streaming e on demand por um valor mais vantajoso do que ter todos eles espalhados por várias empresas? Sim, a transformação digital segue em andamento, como mostram alguns setores do mercado, e com o de telecomunicações não é diferente, ainda que em outro ritmo.

O Open Telecom no Brasil já está em implantação, mas ainda restam ainda muitos pontos a serem discutidos e consolidados, como a parte regulatória, a fiscal e a de incentivos. Internamente, as empresas ainda precisam fazer o que eu chamaria de “dever de casa”. Eis um exemplo: uma grande operadora de telefonia do país tem 72 sistemas internos que não se comunicam entre si. Tudo é separado, e é só olhar para a sua conta mensal para perceber.

A necessidade e as demandas dos clientes estão empurrando operadoras para atender o que o consumidor quer, de que forma, quanto, quando e como. Esse movimento vai atingir, inevitavelmente, o faturamento de todas elas — o que ajuda a entender a lentidão com que o processo caminha por aqui. Ainda assim, a mensagem é clara: o cliente quer serviços disponíveis, de preferência em um único lugar. Mais do que isso: será um ganho adicional proporcionado pela evolução da Internet das Coisas (IoT) no país, que se entende como uma rede de objetos físicos (veículos, prédios e outros dotados de tecnologia embarcada, sensores e conexão com a rede) capaz de reunir e de transmitir dados.

Como alguém que está neste setor por quase 30 anos, posso dizer que estamos mais do que prontos para abraçar com entusiasmo no Open Telecom. Temos no país um histórico agressivo de pioneirismo e inovação. E as operadoras estão entendendo que o caminho vai envolver serviços para além das telecomunicações em suas plataformas, em seus aplicativos. A “guerra dos mundos”, parafraseando o clássico de H.G. Wells, que ainda envolve grandes operadoras (algumas multinacionais) e as menores (compostas por vários provedores, que correspondem a 60% do ercado e controladas por fundos), não precisa e não deve existir.

Modelos modulares e granulares são cada vez mais necessários. São eles que, em contraposição ao legado pré-digitalização, à quebra da cultura do passado, trarão o complemento que o Open Telecom precisará para existir e gerar bons frutos. A infraestrutura e o entendimento das ferramentas e possibilidades já existem. Os sistemas enraizados, contudo, ainda resistem. Na GFT, a expertise nacional e internacional para transformação digital, trabalhamos enfaticamente com o olhar no futuro e em suas possibilidades.

Evidentemente, toda mudança de paradigma apresenta os seus desafios e quase sempre possui variáveis complexidades. Há uma procura por mais eficácia e diminuição de custos por operações mais rentáveis — no ambiente telecom não é diferente. Não existem mais relações em que um cliente permaneça com um serviço por obrigação ou dependência. No Open Banking, isso já está provado. E chegará tão logo o Open Telecom sair da teoria para prática.

Contratar um serviço de streaming a um pacote de dados, pagar um boleto ou adquirir um seguro será possível de maneira ágil e rápida. Aquela necessidade de cancelar um serviço, que ainda hoje gera estresse e vários protocolos, será resolvida em segundos com um toque. A soberania do cliente começa a ser entendida de fato pelas operadoras, mas é um movimento de múltiplas etapas, em consonância com a evolução de tecnologias. Para as empresas, cabe acelerar novas perspectivas para as vendas e faturamento. Só assim os “mundos” hoje ainda divididos irão convergir e, em uma década, será possível ter uma única assinatura, escolher onde e o que assistir, realizar transações financeiras criptografadas com uma capacidade de 1G — em países como a Coreia do Sul, que já discutem o 6G, estão projetando 10G.

Não é simples, mas o Open Telecom está chegando. E vai mudar a nossa vida com requintes dignos de alguns filmes de ficção científica. Cabe às operadoras e autoridades avançarem com foco naquilo que é o mais importante: o cliente e a sua satisfação. Quem sair na frente nisso terá muita vantagem frente aos concorrentes.


*André Neves é vice-presidente de Telecom da GFT Brasil

Previous Associação NEO cria o NEO+, serviço de vídeo por assinatura
Next ISP da zona Oeste do Rio de Janeiro investe na oferta de TV

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *