As telecomunicações em tempos de pandemia


*João Moura

O tráfego nas redes de telecomunicações cresceu em geral em torno de 40%. Alguns operadores registraram aumentos de mais de 70%. As ativações residenciais também se aceleraram: 10%-20% em mais em relação a janeiro em muitos casos. Os ataques dos DDOS se acentuaram exigindo muita habilidade para manter redes estáveis. As restrições à movimentação das equipes dificultam os trabalhos de manutenção de redes externas, que ainda assim seguem firmes.

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A cada dia a Anatel, e também o NicBr, reportam o bom desempenho dos sistemas, sempre com mensagens tranquilizadoras que comprovam a robustez das redes e a habilidade gerencial das operadoras. Num momento crítico como este é algo a comemorar.

O modo on line evitou o estrangulamento na sociedade

O home office passou a ser o padrão de um dia para o outro. Milhares de trabalhadores deixaram as redes corporativas dos seus escritórios para usar a internet doméstica, agora compartilhada com toda a família. Zoom, BlueJeans, Webex e Teams hoje fazem parte do dia a dia de todos, de uma hora para outra. Reuniões de negócios, lives corporativos, confrarias de amigos e até casamentos e celebrações fúnebres, migraram para o novo meio, sem qualquer cerimônia como se fossem o normal nas nossas vidas, há muito tempo. Restaurantes, feiras livres, supermercados, etc. migraram totalmente para o regime on line, graças a eficiência das telecomunicações e o destemor dos entregadores.

 

O espírito animal dos empreendedores

Neste contexto já desafiador, os Ministérios da Saúde, como o apoio do MCTIC e da RNP, pediram aos provedores que instalem conectividade de alto padrão em mais de 40 mil Unidades de Saúde em localidades afastadas em todo o país. Numa mobilização sem precedentes, em poucos dias os provedores já estavam prontos para atender praticamente todas as unidades, muitas delas com mais de uma oferta, mesmo sem ter certeza das condições de contratação.  O Nordeste por exemplo, que tipicamente aparece nos rankings com baixa cobertura de banda larga, registrou 17 mil propostas de serviços e 60,7% do que foi solicitado com atendimento em fibra óptica.

Há anos a Anatel e o MCTIC tentam mapear as redes e backbones do país sem muito sucesso. O mapa agora compilado via projeto do Ministério da Saúde, fornece um bom retrato da pujança das redes de telecomunicações de nova geração construídas no Brasil, graças ao “espírito animal” dos empreendedores brasileiros.

 

A transformação digital forçada e acelerada

As circunstâncias estão forçando a remoção de barreiras para a implementação da transformação digital tão importante e sistematicamente procrastinada. Barreiras culturais, medo de mudanças, conforto com o status quo, tem travado a transformação digital em áreas críticas como educação, telemedicina e serviços de governo. De uma hora para outra as escolas passaram para o regime de educação a distância e a regulamentação da telemedicina andou. Agora não podemos mais esperar. É hora de avançar rapidamente pois a retomada das atividades econômicas e a volta do cotidiano em ritmo normal, incorporará definitivamente as novas possibilidades do mundo digital. Não podemos retroceder. Muitos setores serão transformados profundamente ou desaparecerão por completo. Temos que incorporar os avanços da transformação digital forçada e recuperar os atrasos em busca de produtividade e da competitividade, necessárias para voltarmos a crescer.

O aumento de demanda por conectividade até aqui é marca um novo patamar que não tem volta. No futuro a demanda será ainda maior e em níveis bem mais elevados em termos de exigências de qualidade e desempenho. Desafios que se renovam para as operadoras.

 

Os vilões

Em meio a este turbilhão de mudanças autoridades de destaque, que deveriam apoiar as telecomunicações, revelam completa ignorância sobre como funciona um setor que hoje é a espinha dorsal que sustenta a sociedade em regime de isolamento social. Governadores de estados importantes, prefeitos, juízes e parlamentares sem pudor da própria ignorância vem a público com medidas populistas, ilegais e desarrazoadas, impondo, por exemplo, restrições para a aplicação de regulamentos sobre cobrança de serviços e em condições de inadimplência. Um claro presente para os oportunistas de plantão e um flerte com a irresponsabilidade. Quem financia as telecomunicações? Se a inadimplência continuar a subir como manter os serviços? O afã populista e o profundo desconhecimento colocam em grave risco o que hoje funciona bem!

 

Se não está quebrado por que consertar?

Parece que só as operadoras de telecomunicações entendem que seus serviços são importantes para a sociedade. Onde estão nos programas emergenciais de governos em todos os níveis, qualquer ideia, preocupação ou projeto, para preservação e melhoria das telecomunicações?

Nada ou quase nada. Para registro, foi importante a decisão de postergação do pagamento do FISTEL devido em março de 2020. O setor recebeu mais de R$ 3 bilhões de liquidez por seis meses, sem passar pelo caro e inacessível setor bancário.  O esforço do MCTIC e da Anatel foi louvável e todos agradecemos, embora seja uma medida tímida, que beneficia principalmente os grandes grupos.

Ainda assim, na tramitação da MP do FISTEL no Senado, os oportunistas, já se apresentaram com terríveis jabutis, querendo desvirtuar o projeto e impor um custo muitíssimo maior que o pequeno alívio de caixa que a Medida Provisória trouxe para as operadoras. Mais risco para os mais vulneráveis e que mais precisam, impostos por quem deveria defendê-los.

 

É a vida que segue

As operadoras, em especial as competitivas e provedores regionais, têm muito claro que seguirão prestando serviços, investindo, inovando e crescendo somente com suas próprias pernas. Não adianta esperar apoio do BNDES, desonerações tributárias, remoção de barreiras e burocracia para investimentos, num horizonte razoável de tempo. Ainda assim seguiremos no pós crise, com as mesmas forças que nos trouxeram até aqui, mas com energias revigoradas e muito entusiasmo!

 


*João Moura é presidente executivo da TelComp (Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas)

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1 Comment

  1. 25 de maio de 2020
    Responder

    Importantíssimas colocações abordadas no artigo. Por incrível que pareça a transformação digital de alguns provedores demorou para acontecer. Muitos provedores de internet ainda não estão preparados para vender ou oferecer seus planos online por exemplo. O que quando feito de maneira correta deve possibilitar o aceite de contrato, verificação de cobertura de instalação e automatização de todo processo comercial. O importante é sempre reduzir ao máximo a dificuldade na hora da adesão tanto para o cliente quanto para o provedor. Recomendo uma ferramenta específica nesse sentido: https://conecte.ai Existe a possibilidade de um teste grátis. Acredito que essa pandemia vai para deixar nosso mercado de ISPs mais forte.

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